Segurança da informação

As boas práticas de segurança no novo mundo digital

Entre 2020 e 2021, a adoção da tecnologia da informação - seja em governos, empresas ou no uso pessoal – passou por uma aceleração poucas vezes vista na história. A pandemia de COVID-19 que assolou o planeta exigiu que o mundo se digitalizasse ainda mais rápido. Porém, se essa é uma transformação sem volta, mesmo com o fim da maior parte das restrições sanitárias, uma outra consequência desse processo parece que também veio para ficar: o aumento das ameaças virtuais, como ataques, invasões, perdas e sequestro de dados. Apenas em 2021, de acordo com dados divulgados pela consultoria Check Point Software, o número médio de ataques cibernéticos aumentou 40% em todo o mundo. No Brasil, essa situação é ainda pior, com um crescimento de 62% em relação ao ano de 2020.

O estudo, “Ataques por todos os lados: relatório de segurança do primeiro semestre de 2021”, aponta um número ainda mais impressionante: no período, mais de 40 bilhões de ameaças virtuais foram abordadas por sistemas de defesa em todo o mundo. Dentre essas ameaças, estão desde ataques de hackers até falhas de segurança decorrentes de más práticas dos usuários, como o phishing e os ransomwares. Ou seja, a maior demanda por serviços criou uma maior complexidade dos ambientes, sejam eles onsite ou em nuvem, cadeias de fornecedores mais complexas e usuários menos preparados. Uma combinação fatal e que só pode ser combatida por meio de uma política eficiente de boas práticas de segurança digital.

Novos desafios para os gestores de segurança

O novo mundo, que tornou comuns e corriqueiras práticas como o trabalho remoto, o ensino à distância, as VPNs, as videoconferências e os serviços digitais, trouxe também uma gama enorme de riscos cibernéticos, envolvendo desde o usuário até os gestores. Isso porque o advento de novas funcionalidades aumentou em muito a demanda pela TIC, o que naturalmente aumenta a complexidade, que muitas vezes se transforma em vulnerabilidades. Não por acaso, ataques a grandes varejistas, a indisponibilidade de serviços financeiros, os vazamentos de dados sofreram uma grande alta. É o mercado se adaptando às novas exigências, que são contínuas. O grande problema é que até que tudo se acomode, os prejuízos podem ser enormes. Para evitar essas perdas, é fundamental a consolidação de uma arquitetura de segurança eficiente. E quais seriam os pilares desse processo?

De acordo com o National Institute os Standarts and Technology (NIST), agência governamental responsável por fomentar a desenvolvimento e a capacitação da indústria dos Estados Unidos, existem cinco funções básicas em uma arquitetura de segurança:

  • Identificar: desenvolver uma compreensão organizacional para gerenciar o risco de segurança cibernética a sistemas, pessoas, ativos, dados e recursos.
  • Proteger: implementar proteções necessárias para garantir a prestação de serviços críticos.
  • Detectar: todas as atividades necessárias para identificar a ocorrência de um evento de segurança cibernética.
  • Responder: ações voltadas a agir contra um incidente de segurança cibernética detectado.
  • Recuperar: criar e executar planos de resiliência e restaurar quaisquer recursos ou serviços que foram prejudicados devido a um incidente de segurança cibernética.

Mas para conseguir estabelecer uma arquitetura de segurança que promova uma aplicação eficiente desses cinco pilares, os gestores precisam criar equipes fortes e competentes. Eis então mais um desafio a ser enfrentado, reforçado pelo aumento constante da demanda. Uma pesquisa publicada pelo Enterprise Strategy Group (ESG) e pela Information Systems Security Association (ISSA) aponta que 70% das empresas globais sofrem com a falta de mão de obra para segurança da informação e cibersegurança. E dentre as causas apontadas para essa escassez, a que mais se destaca é a falta de oportunidades de treinamento e desenvolvimento de carreira, resultado direto da falta de mentores, a dificuldade na obtenção de certificações e a falta de oportunidade de capacitação. Por isso, olho no perfil técnico de seu time. Formar um profissional pode ser mais rápido e barato do que pescar em um mercado em escassez.

A atualização constante não deve se restringir ao time, mas sim abarcar toda a organização e seus componentes humanos. Afinal, a segurança depende de todos e a evolução acelerada das tecnologias tem gerado novas ferramentas constantemente. Não à toa, o número de startups cresce significativamente, o que promove muitos movimentos no mercado e altera a dinâmica das inovações. Para levar a percepção de que a segurança é algo que deve transbordar dos departamentos de TI e se tornar uma preocupação de todos os colaboradores, é fundamental investir em conscientização, processos, governança e gestão de segurança. As responsabilidades pela segurança devem ser cada vez mais compartilhadas.

As evidências do que fazer são claras. Mas a execução é sempre mais complexa do que a teoria. Como então colocar todas as medidas em prática? O primeiro ponto é contar com parcerias, tanto internas quanto externas. Na primeira, é fundamental que as ações sejam integradas com áreas chave como recursos humanos, jurídico e administração, além de identificar os profissionais que podem auxiliar no desenho e acompanhamento da arquitetura de segurança. Já nas parcerias externas, o foco é buscar a cooperação e troca de experiências, além de contar com empresas especializadas. A complexidade do mundo atual não permite mais a visão de que apenas o que é feito em casa funciona. O aumento das conexões tecnológicas e com parceiros e fornecedores, somado à abrangência das soluções e da criticidade das ameaças digitais tornam praticamente impossível para uma instituição se manter 100% atualizada. O trabalho em rede, assim, ganha importância e reforça a importância das parcerias.

O segundo ponto sobre a prática é a importância do uso integrado e inteligente de tecnologias de segurança. A cada nova ameaça identificada, uma solução é criada e apresentada para evitar a mesma. Manter esse catálogo atualizado, com uma visão ampla incluindo profissionais de cibersegurança atualizados e qualificados, além de pesquisa e desenvolvimento, é primordial. A arquitetura de segurança deve acompanhar de uma forma cada vez mais intensa as evoluções do ambiente, das tecnologias e das ameaças, e fica mais uma vez evidente a importância de um bom parceiro.

Posto tudo isso em prática, o último ponto de atenção é: organização com processos, gestão e governança de segurança. Prevenir ameaças de uma forma efetiva só é possível quando se tem uma visão clara de como está arrumada a nossa casa. É preciso conhecer os riscos cibernéticos e, com base nesta visão, definir e implementar a proteção. O monitoramento de cibersegurança ganha importância quando a proteção não é suficiente e a velocidade de surgimento de novos ataques é alta. E estar preparado, com mecanismos de resposta a incidentes e recuperação, é essencial, principalmente no contexto de avanço de ransomware. A segurança decorrente de ações das pessoas deve ser baseada em conscientização e com processos claros e que sejam compreendidos e cumpridos por todos.

Indicadores de segurança ligados ao negócio também são fundamentais. Assim, adicionalmente com a gestão e governança de segurança, a exposição da organização pode ser trabalhada. Segurança é um desafio constante. Mas com disciplina e metodologia, é possível vivenciar todos os avanços desses novos tempos de forma íntegra e organizada.

Emílio Nakamura

Sobre o autor

Emilio Tissato Nakamura é Diretor de Cibersegurança, CISO da RNP. Atua em segurança e privacidade há mais de 23 anos, definindo estratégias e processos de segurança, desenvolvendo tecnologias e atuando com clientes e parceiros de diferentes setores. Já trabalhou em empresas como Fundação Bradesco, Kroton, CPQD, Open Communication Security, Sun Microsystems,Robert Bosch e Adtalem Global Education. Possui MBA Executivo, M.Sc, CISSP-ISSAP, ISSMP, tendo publicado livros, patentes, artigos nacionais e internacionais nas áreas de segurança de redes, privacidade, gestão de riscos, gestão de segurança, controle de acesso, IoT e blockchain.

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